AdrianaMarassi - Atualizado em - segunda,11/03/2009

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Matéria do mês: PARTO
A entrevistada é a enfermeira-midwife e professora de enfermagem Lúcia Costa.
O Ministério da Saúde lançou no primeiro semestre deste ano em Brasília mais uma campanha de incentivo ao parto normal. O Ministro da Saúde José Gomes Temporão revelou que cada vez mais os casais têm a ilusão de que, com o parto cesáreo estarão simplificando o processo e de que ele é indolor e mais seguro. 
Esse pensamento se dá em partes pelo medo que a maioria das mulheres têm das dores do parto normal, pela “cultura” médica de que, na da cesariana a dor inexiste e quanto ao tempo de parto, pois a cesárea dura entre vinte e quarenta minutos, e o parto normal algumas horas e nem sempre o médico da paciente estará por perto quando o nascimento se efetivar.
 
A cesariana virou bem de consumo; e um bem de consumo na maioria das vezes desnecessário e arriscado para a mãe e o bebê. É importante saber que está na natureza física das fêmeas (no caso de todos os mamíferos), suportar todo o processo que antecede o parto e a efetivação dele. Exceções acontecem em trabalhos de parto de qualquer mamífero, sendo nestes casos necessária a intervenção cirúrgica, mas detectada a real necessidade deste procedimento.
 
“No parto normal, a mulher participa ativamente do processo de recepção de seu filho. Ela controla os níveis de respiração, favorecendo um melhor controle das dores e dando a ela automaticamente o domínio da situação. Esse controle faz com que a futura mamãe concentre-se no esforço e no sentido correto para que o bebê venha ao mundo de maneira tranqüila, gerando tranqüilidade também para a ela”, diz a enfermeira-obstetra Maria Lucia Costa, professora da enfermagem da Facex .
 
Lúcia Costa diz também que esta participação ativa durante o trabalho de parto e parto do começo ao fim, dá à mulher a oportunidade de descobrir realmente o tamanho de sua força e capacidade de luta.  Há estudos feitos pelo Ministério da Saúde que comprovam que, as mulheres que tiveram seu(s) bebê(s) de parto natural tornam-se mais seguras.


   PARTO NORMAL NÃO É COISA DE OUTRO MUNDO

Benefícios do parto normal

 

Não só as mulheres, mas também a classe médica sabe dos benefícios do pós-parto normal. Na grande maioria dos casos, 24 horas após o parto ou mesmo antes, a mamãe retorna para casa. Este retorno é feito com mais autonomia, pois a mulher tem menos limitações do que se tivesse feito uma cesariana. “A mulher fica com seu bebê nos braços por mais tempo e com mais segurança, pois não houve corte do útero, dos músculos abdominais, não houve grande sutura, anda normalmente sem precisar fazer esforços, sem contar com a rapidez com que seu corpo retorna à forma, podendo assim, iniciar atividades físicas bem mais rápido e sem complicações”, enfatiza a enfermeira.   Ela esclarece que atualmente os partos normais podem acontecer sem dor, através da aplicação de analgesia epidural, cujo objetivo é o de controlar a baseado na administração de substâncias analgésicas por via epidural (peridural), que é o mesmo lugar de aplicação nos casos de cesariana. Mas Lúcia Costa esclarece que este procedimento é passível de avaliação médica, pois deve-se levar em consideração os exames que a gestante fez no decorrer da gravidez, seu histórico de partos anteriores, tatuagem sem espaços em branco na zona de aplicação, portadoras de HIV e Hepatite B, infecção local ou sistêmica, sofrimento fetal agudo, dentre outros. Esta avaliação prévia é necessária, pois o método de aplicação é invasivo, precisa de profissional capacitado para este procedimento, no caso, o anestesista. Se a paciente está bem de maneira geral, a analgesia poderá ser feita.

 

Em caso de gêmeos

 

Em tese, nada impede que a gestante de gêmeos os tenha de parto normal. Mas também é uma situação que exige cuidados especiais e um monitoramento maior da posição dos fetos, da segurança da mãe e outros fatores relacionados ao peso da paciente, a pressão, etc. Também há outro fator no que diz respeito ao parto normal de gêmeos: para este tipo de parto, possivelmente a grávida será levada para uma sala de cirurgia e não para uma sala de parto e a equipe médica que a atenderá será maior. Lúcia Costa complementa que é possível fazer parto normal após uma primeira cesárea. Isto é, se a mulher teve seu primeiro bebê de cesárea, poderá ter o segundo de maneira natural. “Assim como no caso de gêmeos, é necessário que o médico faça uma avaliação do motivo que levou a paciente a fazer uma cesárea do primeiro filho, e então determinar a situação de risco”, diz a enfermeira. Mulheres que não se enquadraram nas indicações de cesárea, tem mais chances de ter seu segundo bebê normalmente, dependendo também do intervalo da primeira gestação para a segunda.

 

Corpo são + Mente sã = Parto tranquilo.

 

Exercícios leves, porém constantes e uma alimentação adequada são imprescindíveis à saude de qualquer pessoa. Tratando-se de grávidas, eles tornam-se quase que obrigatórios, uma vez que melhoram a qualidade do sono, facilitam o trabalho de parto, conservam o corpo da mulher, evitam dores nas costas, culotes, flacidez e melhoram a circulação. Quando a grávida pratica exercícios tem maior facilidade para recuperar o peso depois do parto.

Mesmo os exercícios leves como caminhada sem muito esforço físico, hidroginástica, natação e bicicleta (ergométrica) devem ser bem acompanhados em mulheres com anemia, sangramento, diabéticas, hipertensas ou que já tiveram parto prematuro em uma gravidez anterior.

Lúcia diz que, além do enorme bem-estar, a prática dos exercícios físicos nesse período, ajudam a elevar a auto-estima da mulher, uma vez que, em função das alterações hormonais, algumas ficam desmotivadas, tristes, com enjôos até o fim da gestação e até mesmo, mal humor.

A enfermeira também ressalta que, no junto à prática de exercícios físicos está a alimentação adequada porque ambos são interdependentes. O correto é que a gestante faça seu pré-natal acompanhada paralelamente por um nutricionista, mas reconhece que, no Brasil, são poucas as gestantes com poder aquisitivo para pagar um plano de saúde ou consultas particulares que a ajudem a mante-se bem durante este período. Para a maioria das mulheres brasileiras, assalariadas as condições de acesso às redes de saúde pública que também assegure uma gestação saudável e tranquila são mais complicadas. São filas de madrugada para pegar ficha, demora de meses para serem finalmente consultadas, filas para realizar a consulta propriamente dita, equipamentos nem sempre compatíveis com o estado da grávida e nem sempre funcionando. 

"No geral, orientamos às mães que usam o SUS -Sistema Ùnico de Saúde- , que dêem prioridade às frutas, aos legumes e verduras, aos sucos da época, porque além de saudáveis são baratos, acessíveis à todos os bolsos", frisa Lúcia. Assim, essas mulheres terão menos problemas com anemia, baixo peso ou sobre-peso e enjôos.

O importante é que, as gestantes, da abastada a assalariada  têm  o direito a uma gravidez saudável, pois o bem-estar  é um item que está diretamente associado a um parto tanquilo, sem traumas físicos ou psiquicos.

 

Parto domiciliar é possível?

 

Segundo a enfermeira Lúcia Costa, embora não difundido no Brasil por razões culturais, o parto domiciliar é possível, mas precisa preencher critérios mínimos para a segurança da mamãe, do bebê e da equipe médica que realizará o parto, tais como a higiene do local, o material instrumental, os remédios e as roupas da equipe precisam ser descartáveis, além do médico, é necessário uma enfermeira, é preciso averiguar a distância entre a casa da parturiente e a rede hospitalar mais próxima em caso de complicações e o imprescindível, que é a obrigatoriedade da equipe médica e da gestante avisar à rede hospitalar sobre a realização do parto, pois em caso de urgência, a equipe do hospital ficará de prontidão para atender o caso.  

 

O pai é bem-vindo

 

De acordo com a Lei Nº 11.108, de 7 de abril de 2005, é garantida à parturiente a presença de 1 (um) acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, sendo este acompanhante indicado pela parturiente, tanto pela rede própria do Sistema Único de Saúde (SUS), como pela rede conveniada. Este direito à acompanhante faz parte da campanha de parto humanizado, pois “até bem pouco tempo, coisa de cinco ou dez anos, os homens tinham medo de assistir ao parto de suas companheiras. Na maioria das vezes, a gestante entrava e saia da sala de parto sozinha, aumentando sua aflição e insegurança. Quando a Lei de Acompanhantes foi criada, a companhia mais freqüente nos momentos de pré-parto, parto e pós era a avó materna ou paterna”, diz a enfermeira Lúcia. Atualmente esta sensação de solidão, insegurança ou de um vazio, vem mudando radicalmente, pois a participação dos futuros papais está cada vez maior, por perceberem que é uma oportunidade única de participar ativamente junto com a mãe nesse momento de recebimento da criança. “Nestes casos, o homem tende a ficar mais solidário e mais participativo na divisão das responsabilidades com o bebê, e essa atitude torna o casal mais unido”, completa Lúcia.


Estatísticas e Indicação para cesariana

 

Enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde) estipula como média ideal que, entre 10 % a 15% do total partos realizados nas redes públicas e privadas de saúde sejam cesariana, o Brasil, na contramão do incentivo ao parto normal, lidera o ranking mundial de intervenção cirúrgica desnecessária.

            Levantamento encomendado pelo Ministério da Saúde demonstra que a cesariana já representa 43% dos partos realizados no Brasil, tanto no setor público quanto no privado. Analisando as mulheres que utilizam planos de saúde, esse percentual é mais assustador, chegando a 82% de partos cesarianos.

            A cesariana tem a finalidade de extrair o feto do ventre materno por meio cirúrgico. Apesar da larga incidência, só deveria ser realizado em situações de risco para mãe ou bebê. Neste procedimento, o médico necessita fazer um corte de 8 a 12 cm na região acima do púbis para o nascimento da criança. É indicado em casos como bebê macrossômico (muito grande e pesado), prolapso de cordão (é uma complicação rara na qual o cordão umbilical precede o bebé na sua passagem pelo canal de parto ), descolamento prematuro de placenta, placenta prévia (patologia onde a placenta implanta-se no colo do útero, isto é, no fundo do útero), sofrimento fetal e em casos de doenças maternas, como eclampsia, herpes genital, e HIV (a transmissão para o feto diminui quando se faz parto cesário). Também é recomendado nos casos de cirurgias ginecológicas prévias e gestação gemelar, quando o útero fica muito distendido, pois pode ocorrer ruptura da cicatriz por ocasião da expulsão fetal. Após duas ou mais cesáreas deve-se repetir a via cirúrgica. Em casos atípicos, como feto córmico, quando o feto está em situação transversa (deitado) e não existe possibilidade de nascimento e em malformações fetais.

Apesar de também ser um direito que a mulher tem de optar pela cesariana, é importante que ela tenha todas as informações sobre esses tipos de parto, para evitar inseguranças e nervosismos. “Há mulheres que gostam de ter o controle da situação e mesmo sabendo das comodidades momentâneas da cesariana, optam pelo parto normal; assim como, existem aquelas que por ficarem muito nervosas preferem o parto casario”, afirma Lúcia Costa, e conclui afirmando que, a maioria das mulheres, mesmo as que fazem uso de planos de saúde não sabem dos riscos que se escondem por trás de uma cesariana, pois os maiores índices de infecção e mortalidade mãe-bebê acontece neste tipo de parto. Para a enfermeira, a reversão do alto índice de cesáreas desnecessárias no Brasil, deve partir prioritariamente das universidades, que formam os futuros profissionais erradamente para mostrar os partos normais, mas na prática, fazer a cesariana. “A perpetuação dessa atitude leva em conta apenas na teoria, a saúde da mãe e do bebê. Se a preocupação fosse real, verdadeira, os futuros profissionais começaria já nas universidades uma nova consciência da importância do parto natural”, conclui.